quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Feliz Aniversário

O dia começou como um dia qualquer, de noite. Como assim de noite? Oras se você não sabe todo dia começa e termina com uma noite, afinal de contas 00h já é outro dia, ou seria 00h e 01 min? Essa discussão deixemos para outro dia ou quem sabe outra noite.

Bom como ia dizendo, peguei o celular e liguei, do outro lado uma linda voz me atende com um estridente alô. Desse lado da linha canto “Parabéns pra você” e recebo uma negativa em minha canção. “Ainda não tá de dia, não é meu aniversário ainda”, tentei explicar que o dia começa de noite, que já se passava da 00h e tudo mais, porém não fui compreendido.

Finalmente o sol acorda de seu sono profundo, mas como sono profundo se quando aqui tá de noite, lá tá de dia, e quando lá tá de dia, aqui tá de noite, e como é dia se começa com noite. Ah! Chega! O sol nasceu e finalmente poderia cantar, mais uma vez pego o telefone e não querem nem me atender.

Como era dia fui trabalhar e essa é a parte que menos importa porque ninguém queria discutir a que horas o dia começava, se era dia sendo noite e muito menos conseguiria cantar o desejado “Parabéns pra você”.

Cai à noite, agora noite mesmo, pois quando o sol vai dormir mesmo não indo (tá certo não falarei mais sobre isso) é efetivamente noite, sei que nesse momento pode surgir a pergunta: “E quando for horário de verão?”. Ah! Vai ficar sem resposta.

Chego e a festa está montada, crianças pela sala, músicas tocando, mulheres de um lado, homens de outro. Elas, as crianças, brincam e gritam (na verdade mais gritam do que brincam). Elas, as mães, falam das peripécias de seus pequenos e as outras elas escutam, pois ainda não tem seus pequenos. Eles comentam com toda a autoridade a rodada do fim de semana, e eu sou olhado por todos ao mesmo tempo, não com a mesma intensidade, mas ao mesmo tempo.

Cadê ele? Não agüento mais! Quero cantar logo! E lá surge o garoto. De pronto acho que ele acabou de sair do banho, me dá um abraço de “quebra-costelas”, um beijo estalado e acabo lembrando que a água do banheiro não é salgada, vira as costas sem ao menos deixar iniciar a primeira sílaba da tão esperada canção. Sem problemas, já esperei o dia inteiro, mesmo ele começando a noite, espero mais algumas longas horas.

Apagam-se as luzes, todos se aproximam, as mãos se afastam e na hora a iluminada vela não quer acender. Acho que nem queria cantar mesmo.

Até que ela se acende e finalmente posso soltar o que estava preso dentro de mim por todo o dia, mesmo começando a noite, “parabéns pra você/ nesta data querida/ muitas felicidades/ muitos anos de vida.” E a vela se apaga e com ela se inicia mais um ano de vida, mais um ano de experiências, de brincadeiras.

E no fim mais um dia começa quando a noite ainda existe! Sabendo que já é dia quando aqui é noite! E já passa da meia noite? Parabéns pra alguém!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

“... Tudo que morre fica vivo na lembrança, como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça...”

Lembranças... Quem não as tem? Todos as temos. Boas ou ruins, alegres ou tristes, mas temos!

Cemitério na cabeça” é uma expressão de muitas interpretações... Qual escolher? O lado sombrio do cemitério? Ou o lado das boas lembranças? Mas como ter boas lembranças em um cemitério?

Poxa! Nossos entes queridos estão lá não é mesmo?

Sim! Estão.

É triste lembrar-se deles?

Não, não é!

A nossa mente é um mar de lembranças. Quem nunca foi a um cemitério pedir conselho ao seu ente em sua nova morada? Tá certo ainda não fui, até você não deve ter ido, mas um dia irei e quem sabe você também irá.

As lembranças são assim, ocupam as nossas mentes como os corpos ocupam seus lugares nos cemitérios, mas depois se vão como uma exumação. Se vão, mas não se perdem, ficam para que possamos lembrar o quanto fomos felizes, o quanto aprendemos, o quanto erramos, o quanto sofremos.

Mas quem bem conhece essa música sabe que o verso continua com “... mas antes que eu me esqueça, antes que tudo se acabe. Eu preciso dizer a verdade/ É impossível esquecer você...

Então diga a verdade, antes que tudo se acabe, diga que a sua lembrança não é volátil, diga hoje, não espere!

E viva com o cemitério na cabeça, mas com a leitura que nos remete saudades e momentos felizes!

CARPE DIEM!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

A Semana

Sempre digo que se não existissem os problemas a vida seria sem graça, na verdade não sei se fui eu quem inventou ou se escutei em algum lugar, mas sempre digo.

E essa semana que passou foi A SEMANA. Segunda coloquei um ponto final em tudo, sim, sei que fiz merda e durante toda a terça acrescentei mais dois pontos e eles formaram uma reticência, seria a continuidade? Se soubesse responder seria mais fácil.
Terça, ufa... ufa mesmo, não respirei aquele clima pesado, mas as músicas me tocaram (e elas sempre me tocam), não conseguia pensar em mais nada somente no ponto final que seria colocado quarta.

Quarta! É hoje! Dia de final (além da final do Inter e Chivas)... “Os dias passam lentos” (já dizia o Biquini Cavadão), mas a noite voa (alguém já disse isso?), e esse “Zé ninguém” que vos escreve chega e é bem recebido e o possível ponto final se transforma em dois pontos cuja explicação é obscura, mentirosa, omissa. Me falta coragem. Coragem para contar a verdade, coragem para encarar a situação, coragem para pular no abismo.

Apesar da falta de coragem quero pular, quero pagar pra ver. Sempre fui polido em minhas atitudes. Sempre, em minha vida, o SE esteve presente, mas estou perdido... completamente perdido, escuto tudo e todos, e apesar de dizerem a mesma coisa eu não os escuto efetivamente.

É! A quarta a noite passou e eu fugi, sem pontuar, mas na verdade pontuando. Foi feita a exclamação. Será que volto? Será que ele volta? Onde está Wolly?

Chega a quinta e o sol me dá um caloroso: “bom dia seu bom FDP”. É impressionante a força que tenho durante o dia e a fraqueza que me acompanha durante a noite. Feitiço da Áquila...alguém lembra? Eu me lembro! Mas nessa quinta, diferente de toda a semana, me sinto fraco, "chateado, desmotivado, sem vontade de cantar uma bela canção" (by Joseph Climber) - é impressionante a capacidade que tenho de nos piores momentos ainda conseguir fazer uma piada -. Bom mas como dizia, esse dia estava diferente. E derrepente me vi mais motivado ainda em colocar o tão difícil ponto final.

É hoje... que sumam as criptonitas... tirem as crianças do quarto... hoje o bicho vai pegar.

Chego em casa e eles não estão, teoricamente está mais fácil. Sento, olho e as palavras me fogem. Até elas me abandonaram?

Pego o lápis da vida, o papel da discórdia e pontuo o tão esperado ponto final. Não posso negar que me doeu, coração é terra que não se pisa mas, se não existissem os problemas a vida seria sem graça.

Crônica da Loucura

Em primeiro lugar queria pedir permissão para estrear o blog com uma crônica interessante!!

Estou em um momento de loucura e ainda sim consigo achar graça das coisas!!!

O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos. Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou.

Durante quarenta anos, passei longe deles. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal. O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera. Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco. Ninguém olha para ninguém. O silencio é uma loucura. E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses.

Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo.E a sala de espera de um "consultório médico", como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos:

Na última quarta-feira, estávamos: eu, um crioulinho muito bem vestido, um senhor de uns cinqüenta anos e uma velha gorda. Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do principio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados. O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam ou conseguiu entrar como sócio do "Harmonia do Samba"? Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.

E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assuou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual?Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.

Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse.
Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista. Conto para ele a minha "viagem" na sala de espera. Ele ri, ri muito, o meu psicanalista e diz: "O Ditinho é o nosso office-boy. O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades. E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe. E você, não vai ter alta tão cedo..."

Luis Fernando Veríssimo